O Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo descartou que o metanol encontrado em algumas garrafas de destilados apreendidas pela Polícia Civil seja resultado da destilação natural. De acordo com a perícia, as altas concentrações identificadas indicam que a substância foi adicionada às bebidas.
“Pode-se afirmar, até o momento, e de acordo com as concentrações encontradas em dois lotes, que o metanol foi adicionado, não sendo, portanto, produto de destilação natural”, disse a polícia em nota.
As autoridades não informaram a quantidade de garrafas analisadas, nem o percentual de metanol verificado. Também não divulgaram os nomes dos estabelecimentos nos quais essas bebidas foram apreendidas —segundo as autoridades, a divulgação pode atrapalhar as investigações.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse nesta terça-feira (7) que a Polícia Federal investiga se bebidas alcoólicas foram adulteradas com o metanol que teria sido abandonado após ação policial contra a infiltração do crime organizado em postos de combustível e no setor financeiro.
“Todos sabem que recentemente tivemos enorme ação de combate à infiltração de crime organizado na área de combustíveis. Muitos caminhões e tanques de metanol foram abandonados depois da operação. Essa é uma hipótese que está sendo estudada, trilhada, acalentada pela PF”, disse o ministro, na ocasião.
Lewandowski não mencionou a suspeita de envolvimento de uma facção criminosa específica, como o PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele disse que as apurações ainda são embrionárias e que a PF não descarta nenhuma hipótese.
Nesta quarta-feira (8), o Brasil confirmou 24 casos de intoxicação por metanol e cinco mortes. Os dados são do Ministério da Saúde. O estado de São Paulo é o epicentro da crise, com 20 intoxicações confirmadas e todas as mortes registradas até o momento. O Paraná tem três casos e o Rio Grande do Sul, um —de um homem que teria consumido o álcool em São Paulo.
São investigados outros 235 casos no país, sendo 181 em São Paulo. O estado já descartou 111 suspeitas após análises clínicas. Em relação às mortes, seis são investigadas em SP, três em Pernambuco, uma na Paraíba e uma no Mato Grosso do Sul.
A Justiça de São Paulo autorizou nesta quarta a destruição de todo o material apreendido em operações de combate à adulteração de bebidas no contexto da crise do metanol.
A decisão é do juiz Lucas Bannwart Pereira, do Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, que atendeu a um pedido da Polícia Civil. No documento, ele afirma que milhares de frascos foram encontrados numa suposta empresa de recicláveis que vendia garrafas de várias bebidas alcoólicas sem nenhum controle de higiene, origem ou destino, e nem fazia a limpeza das embalagens.
“Considerando o potencial lesivo da mercadoria apreendida, porquanto não passam por qualquer tratamento sanitário, higienização, limpeza, etc., segundo o próprio proprietário, a manutenção das referidas mercadorias, por si só, representa potencial e concreto risco a um sem número de pessoas que podem ser expostas a eventuais substâncias presentes nestes vasilhames”, diz o juiz na decisão.
O governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos) falou sobre a autorização durante visita às obras da Linha 17-Ouro do Metrô, em São Paulo. Segundo o governador, serão destruídas cerca de 100 mil garrafas encontradas em um depósito no centro da cidade.
“A gente obteve hoje na Justiça autorização para fazer a destruição de todo esse material que foi apreendido, de todas essas garrafas”, disse.
O governador explica que o descarte será feito por meio de empresas de reciclagem, com o objetivo de “garantir a logística reversa” do material.
Tarcísio afirmou que o governo estadual fez reuniões com comércios afetados pela crise. “Continuamos as reuniões dos nossos grupos de trabalho. Hoje a gente teve uma reunião com setores de bares e restaurantes, e estão sendo levantadas várias sugestões”, disse.
